Não me falem de problemas depois das 6h da tarde.
O problema mental que apresento a seguir é deveras incomodativo para quem padece deste mal e para quem convive com o enfermo, na eventualidade de ainda lhe restarem amigos ou família com boa vontade suficiente de lhe dirigir a palavra. Depois das 6h de tarde, sobretudo, ou, se não guardarem rancor, a qualquer hora do dia seguinte.
A questão é esta: depois de um dia de trabalho, não me apetece falar. Mais especificamente, não me apetece prosseguir um diálogo estruturado, cheio de planos para os dias seguintes e de considerações sobre o dia que passou. Por norma, e por educação, ouço as pessoas. Compreendo-as. Têm necessidade e vontade de falar comigo. E, por isso, ouço. Vou dizendo "hm, hm" e "pois" para não mostrar desinteresse. Além disso, não quero que pensem que não me interessa o que dizem. Interessa e muito. Mas durante o dia. Ao fim do dia e, especialmente, à noite, só ouço um mar de palavras e fico à espera que o discurso acabe. E só me apetece dizer "Opá, cala-te!". Mas está tudo controladinho...
Posso manter um diálogo. Mas daqueles que são só desconversa, que nos fazem rir e nos fazem descontrair. Isso, ok!
Mas, por favor, não me façam falar da vida diária depois das 6h da tarde por muito mais de 10 minutos, pelo menos. Não consigo.
Todas as decisões que tomo, toda a minha lucidez, está circunscrita ao horário de expediente.
Não me peçam opiniões depois das 6h da tarde, a não ser que sejam opiniões parvas. Aí, ok! Não me peçam para falar de assuntos sérios depois das 6h da tarde. Está demasiado calor para pensar depois dessa hora...
E, se quiserem falar comigo, usem menos palavras... Tantas palavras que as pessoas têm para dizer, com tantas sílabas... Parece que tenho água a correr-me nos ouvidos. É tudo o que ouço quando a enxurrada é de palavras.
A última vítima foi a minha mãe:
Mãe - "Pronto, já percebi que, a partir de uma certa hora, não se pode falar contigo! Mas eu vou dizer o que tenho para dizer na mesma e tu vais ter de aguentar. "
Eu - "Por mim, tudo bem, mas já sabes que, a esta hora, não dou opiniões."
Mãe - "Quero lá saber!"
Eu - "Ok, dá-lhe!"
E lá acabei por dar opinião. Gostei da provocação... :-) E mãe é mãe...
Mas, por favor, não me peçam mais do que isto. Só ouço chuááááá... chuáááááá´...